Como A Série “Ultimate Ninja Storm” Reviveu Meu Amor Por Naruto

Paladin Allvo
6 min readMar 15, 2021

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Naruto é uma série muito especial para mim. Antes dela, eu sequer sabia da existência do cenário de anime e mangá, muito menos o que era um shounen. Foi depois de esbarrar casualmente em um episódio no SBT numa tarde de segunda ou quarta-feira que conheci o anime (e posteriormente mangá) que mudaria tudo na minha vida. Ao longo dos anos eu fui colecionando e lendo os mangás da Panini em sua publicação original até a derradeira conclusão em 2015.

A partir do Ninja de Laranja, meu interesse por anime e mangá cresceu e graças a isso, conheci outras obras incríveis e todo um novo mundo, porém, após um tempo comecei a notar alguns defeitos aqui e ali na história. Na época, algumas coisas eu já não tinha gostado e outras ficaram mais evidentes, ou seja, pelo advento do amadurecimento, as falhas ficaram bem aparentes. Falhas essas, vale lembrar, que a internet enfatiza em fazer piada ou apontar quando o assunto é mencionado.

Junte isso ao anime se arrastar por 500 episódios e o anúncio de uma continuação com apenas três anos de encerramento da saga original e pronto, a piada está pronta. Com as notícias de Boruto cada vez mais frequentes e com a fandom forçando tudo que é discussão besta no Twitter, me afastei de Naruto e a única lembrança em minha mente eram os erros que o mangá cometeu.

Foi nesse instante que decidi dar um tempo na minha relação com a série. Desde o meu primeiro contato com esse mundo de anime e mangá, eu vi e li muita coisa e hoje posso dizer com maior segurança que possuo um certo conhecimento mais amplo desse universo de mídia japonesa. Há uma tonelada de títulos no mercado, muitos deles melhores que Naruto—especialmente o anime, cuja arte e animação deram uma queda significativa em qualidade—e eu concordo com algumas das reclamações da reta final. Mesmo assim, apesar de afastado, não conseguia desgostar da série como um todo por algum motivo, mesmo vendo todos os erros e imperfeições. Logo eu acharia minha resposta, da forma mais inusitada possível.

Alguns dias atrás, resolvi retomar o jogo Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 2 de onde eu tinha parado. Eu comprei a coletânea com os quatro jogos da série Ultimate Ninja Storm ano passado, mas tinha largado o segundo jogo há meses por conta de uma boss fight frustrante. Algo me dizia para tentar mais uma vez e quando notei, estava acabando o modo história do jogo. A forma como a CyberConnect2 adaptou os arcos em UNS 2 já se provou muito melhor daquela apresentada no primeiro Ninja Storm, um game que infelizmente é fraco e monótono.

Então chegamos a Ultimate Storm 3. O jogo tem como abertura o ataque da Raposa de Nove Caudas à Aldeia da Folha, em uma sessão de gameplay de tirar o fôlego. Apesar da tradução para português brasileiro ser bem mal feita, com erros crassos de abreviação e traduções literais, a minha experiência com Storm 3 estava sendo agradável (a frase que eu mais disse durante a jogatina foi “tá igualzinho ao mangá” para certas cenas). Ao alcançar o arco da Kushina no game, foi onde me lembrei do porquê eu amo tanto essa série.

Quando a Kushina apareceu em Naruto pela primeira vez no mangá, a reação que tive foi primeiro de surpresa. Eu não sabia nada além da informação “ela é a mãe do Naruto" e o pequeno arco dela dentro da história é um dos momentos mais inspirados de Masashi Kishimoto e um dos mais emocionantes da história como um todo. De bônus, histórias que envolvem família é um dos meus pontos fracos, especialmente para drama.

Hoje, revendo a história dela bem adaptada e cheia de carinho no game, não consegui me conter e chorei bastante, tal qual nunca fiz nem mesmo na época em que eu lia mensalmente o mangá. Talvez seja por não ter visto essa parte da história há anos ou por conta da pandemia estar afetando meu emocional, refleti sobre tudo o que tinha vivido com Naruto até então. Reler o volume do mês até o próximo sair, as conversas com antigos amigos de escola, se encantar com a primeira tranqueira avistada tematizada da série, receber o volume final enquanto eu mesmo estava terminando o Ensino Médio e várias outras boas memórias.

O que eu tirei desta experiência é algo fácil na teoria e difícil de fazer na prática: você pode gostar de uma coisa imperfeita ou super simples. Nem tudo precisa ser perfeito sempre e viver apontando somente as falhas quando existem qualidades é uma prática nem um pouco saudável. Já é comum a todos o fato da reta final de Naruto deixar muita coisa a desejar; como Boruto é desnecessário (o filme é bom porém). Mas, às vezes, vale mais a jornada do que o final, e é isso que vou priorizar daqui pra frente quando se trata de Naruto.

Isso não significa fechar meus olhos totalmente para os erros da série—nunca perdoarei o Kishimoto ter feito as personagens femininas donas de casa que só sabem cuidar dos filhos e não gosto da ideia de toda a história dos shinobi ser um plano mirabolante pra reviver a Kaguya—porém vou abraçar as falhas e priorizar as coisas boas que vivi por todos esses anos.

Um dos temas mais recorrentes da série é o passar das gerações e o legado delas. Arte por Masashi Kishimoto.

Acho que devo agradecer pelo momento em que decidi retomar os jogos e ter vivido essa reflexão. Obrigado Ultimate Ninja Storm por ser uma série de jogos tão boa (menos você Storm 1, você é ruim), por me lembrar do porquê gosto tanto de Naruto e por ter revivido meu amor pela série que foi tão especial para mim. Ter jogado os games e relembrar de cada cena, cada fala foi como rever um velho amigo que não falava faz tempo por conta de uma briga e finalmente o perdoei.

Então a lição que fica é: se permitam ser felizes gostando das coisas que gostam. Pode não ser a coisa mais bem feita ou com o melhor roteiro do mundo, mas se é especial para você ou te faz feliz, vale a pena continuar gostando disso. Não significa necessariamente fechar seus olhos para os pontos negativos, mas sim abraçar as qualidades, entender os defeitos e valorizar aquilo de positivo da sua experiência com a obra.

Espero que tenha gostado desse texto! Foi uma escrita mais voltada pro lado mais emocional do que uma análise objetiva, por se tratar de uma experiência pessoal minha. Na vida a gente passa por muitas dificuldades e desilusões e por um bom tempo, Naruto tinha sido uma enorme desilusão, mas na verdade eu só precisava dar uma segunda chance pra lembrar novamente daquilo que me fez gostar tanto da série.

Até a próxima! E fiquem bem.

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Written by Paladin Allvo

Brasileiro fã de anime, mangá, joguinho e quadrinhos. Escrevo as coisas que penso e/ou vivencio.

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