Heartstopper: Um Retrato Bonito da Juventude Queer | Especial PRIDE

Paladin Allvo
7 min readJun 3, 2023

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Achou que história LGBT era só tragédia? Achou errado, otárie!

Eu não tive muitas referências de personagens LGBTQIA+ enquanto crescia. Sou de 1997 e fui uma criança dos Anos 2000, logo naquela época ou você era gay/lésbica ou hétero. Qualquer coisa fora dessa caixinha praticamente não era debatido ou discutido de forma nenhuma e, no caso dos meios masculinos, você era alvo de chacota se parecesse “mulherzinha”. Chega a ser irônico como todo mundo lembra dessa época com nostalgia, mas essas partes ficam convenientemente de fora.

Porém, quase vinte anos depois, as coisas mudaram. Sexualidade não é mais uma caixinha restrita e cada vez mais pessoas de diferentes gêneros e orientações sexuais pasaam a se expressar com maior liberdade (apesar de ainda haver muito preconceito). E para celebrar essa comunidade tão diversa, foi criado o dia 28 de junho, o Dia do Orgulho LGBT mas a comemoração se estende por todo o mês de junho, o que ficou conhecido como O Mês do Orgulho (ou Pride Month em inglês).

É nesse contexto que surge Heartstopper. Originalmente uma série em quadrinhos de grande sucesso criada pela quadrinista Alice Oseman, a história foi adaptada em formato de série de TV pela Netflix e causou uma grande repercussão, tendo sua segunda temporada prometida para o dia 03 de Agosto de 2023 (na data de publicação deste texto, a S2 foi apenas anuciada, sem estreia ainda). Apesar de ser essencialmente uma narrativa adolescente, Heartstopper faz um trabalho excelente em não só mostrar uma história com dilemas de pessoas LGBTQIAP+, como também representar jovens de forma realista, crível e muito fofa.

Um Show de Diversidade

Elenco dos personagens principais da série.

Um dos principais problemas de personagens LGBTQIA+ esbarrava sempre na forma como eram representados de forma caricata. Isso mudou bastante de uns anos pra cá (ainda bem), e temos muito mais exemplos de boas representações. E Heartstopper faz isso com maestria.

Começando pelo casal principal, Nick e Charlie, ambos pertencem a mundos totalmente diferentes. Charlie é bastante tímido e vive sendo alvo de bullying dos garotos de time de Rugby. Enquanto isso, Nick é o clássico “garoto popular”: joga no time de Rugby, é bonito, confiante e popular entre as garotas. Quando ambos passam a se sentar juntos na aula, eles acabam descobrindo sentimentos um pelo outro—no caso do Nick, até mais sobre si mesmo.

Mas a série não para somente neles dois. Aqui vemos gays, bissexuais, lésbicas e uma das personagens com maior foco é Elle,uma menina trans, interpretada por uma menina trans. Só faltou personagem não binárie!

E ao invés de somente focar nas características queer desses personagens, Heartstopper os faz como personas completas: sabemos suas personalidades e gostos, ao invés de focar somente na sexualidade/expressão de gênero.

É um alívio ver em uma série para o público jovem, que mostra tanto o lado positivo quanto o negativo da coisa (a cena de comentários desagradáveis no post onde Tara e Darcy se assumem como um casal lésbico é um exemplo disso). Apesar de todo o desenvolvimento bonitinho, ainda existem alguns percalços como bullying, homofobia, comentários maldosos e, no caso do Nick, a confusão de tentar entender a si mesmo. Aparentemente mais pra frente na comic a trama trata de assuntos um pouco mais pesados, porém ainda mantendo o tom otimista de sempre.

Eu fico feliz em ver uma série que debate temas tão contemporâneos usando um tom tão leve e bem teen (Jesus Cristo alguém ainda usa o termo “teen” nos dias de hoje?!). Mostrar essas pessoas de orientações e gêneros tão diferentes de forma natural e saudável faz muita diferença para quem se vê em algum deles. Todo mundo já deve ter conhecido alguém parecido com um dos personagens da série ou até se identifica com algum deles, e ver que ser LGBT é algo normal e comum mesmo fora dos padrões heteronormativos.

Quem dera tivesse uma obra como Heartstopper quando eu era adolescente…

“Tudo Ao Seu Tempo”

Uma das lições mais valiosas de Heartstopper é que a autodescoberta leva tempo. Pra alguns, muito tempo.

Nick passa toda a primeira temporada tentando entender a própria sexualidade e o processo é mostrado de uma forma muito natural e respeitosa. Para quem já esteve nesse estágio, sabe como se entender e se aceitar é algo que não acontece da noite pro dia e infelizmente em alguns contextos familiares, esse processo nem sempre é tranquilo. A cena onde o Nick se assume bi para a mãe é de tocar o coração de qualquer um, dada toda a jornada do personagem até aquele momento.

E não se restringe somente a descoberta de Nick. Elle leva um tempo para fazer amizades na nova escola, já que a sua última não lhe deu uma experiência muito agradável (e há sutis pistas de que o processo de transição dela não foi nem um pouco tranquilo), mas por sorte ela acaba fazendo amizade com Tara e Darcy após descobrir sem querer o segredo delas, bem como seu romance com Tao também leva um tempo até florescer. Essa série escreve romances muito bem!

A primeira temporada da série se dedica a transmitir a mensagem de que tudo nessa vida leva tempo. O autoconhecimento, o nascer de um relacionamento, segurança para fazer novos amigos, são processos nunca ocorrem de imediato. A melhor parte é falar disso tudo sem o drama exagerado de uma típica série adolescente. Os personagens são jovens e ainda têm muito o que aprender, mas seus dilemas e questões são tratados como os de qualquer outro jovem, sem aquele estardalhaço que outras produções do gênero costumam fazer (estou falando de vocês mesmo, filmes teen da Netflix). É tão revigorante ver adolescentes escritos como adolescentes para variar um pouco, não é?!

Altas Doses de Fofura

Se tem uma coisa que deixa meu coração quentinho é ver casal feliz e saudável sendo fofo. E Heartstopper tem vários por metro quadrado.

A história de Charlie começa conturbada com um parceiro que não o assume publicamente, até o dia em que o rapaz dá um basta nisso, iniciando uma nova fase na sua vida. Tara e Darcy já vivem um relacionamento há um tempo, mas ninguém além de Elle sabe na escola, até ambas criarem coragem para tal. Falando na Elle, ela e Tao voltam a se aproximar depois que ela muda de colégio e começam a perceber fortes sentimentos um pelo outro.

Cada cena romântica dessa série me deixava completamente derretido por dentro. É de uma leveza e sinceridade tão grandes que é praticamente impossível não se apaixonar por cada um dos casais apresentados. As demonstrações de amor de Nick e Charlie são as mais marcantes da série por razões óbvias, mas também temos momentos fofos nas demonstrações de amizade.

Charlie e Tao são super amigos e o último sempre foi compreensível e respeitoso, logo no primeiro episódio já temos um diálogo dele revoltado com os meninos da escola tratando Elle como o “eu morto” dela antes da transição. Tori, irmã mais velha de Charlie, também brilha nas vezes em que aparece, afinal por trás da atitude aparentemente indiferente, ela sempre apoia o irmão e claro, dá aquele pequeno “empurrãozinho” para ajudá-lo.

Não somente Heartstopper é fofo, como também é extremamente esperançoso. Um casal gay que não acaba em tragédia ou rompimento é algo tão legal de se ver na tela e deveria ser algo mais recorrente. Sem drogas pesadas, cenas violentas ou dilemas impossíveis de resolver, apenas dois rapazes descobrindo que gostam um do outro. É pedir muito?

Conclusão

Espero que vocês tenham gostado de ler esse texto. Eu quebrei um pouco a cabeça sobre o que falar neste espaço em comemoração ao Mês do Orgulho LGBT, até que decidi escrever sobre essa série maravilhosa que fez meus olhos brilharem enquanto assistia. O texto foi meio improvisado, mas acho que consegui expressar bem o quanto eu gosto de Heartstopper. Até pensei em reassitir a primeira temporada após escrever esse texto (e rever algumas cenas no YouTube). Obviamente mal posso esperar pela segunda temporada!

E eu não prometo nada mas, ainda quero escrever outro texto temático. Se o tempo deixar, ainda vai ter mais conteúdo aqui nesse mês de junho.

Vejo vocês na próxima, feliz Mês do Orgulho e nos vemos na próxima! E fiquem bem.

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Paladin Allvo

Brasileiro fã de anime, mangá, joguinho e quadrinhos. Escrevo as coisas que penso e/ou vivencio.