Por Que Dragon Ball Super: Broly é o MELHOR Filme de Dragon Ball

Paladin Allvo
8 min readNov 15, 2021

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Uma coisa que eu sempre tive fascínio quando comecei nesse meio de anime eram os filmes derivados, ou OVAs como eram chamados nas décadas de 1980 e 1990. Porém, enquanto alguns são sequências dos eventos da história original e outros suas próprias produções sem estarem atreladas a um grande mangá, os OVAs de Dragon Ball e Saint Seiya, produzidos pela Toei, sempre tiveram algo…peculiar. A grande maioria deles eram cópias das sagas da adaptação animada (e por consequência do mangá) porém com seus próprios vilões e técnicas originais. Dá para inclusive saber de qual era o filme pertencia só pelas transformações de Goku.

Tudo mudou em 2014, com o anúncio de Dragon Ball Z: A Batalha dos Deuses. O filme foi responsável por uma fórmula até então inovadora: ao invés de ser mais um filme produzido com base no mangá original, ele seria o responsável por apresentar um novo capítulo para a saga, expandindo o universo e contando com Akira Toriyama nos roteiros e design de personagens. O filme foi um sucesso e rendeu uma sequência, intitulada Dragon Ball Z: O Renascimento de F, que trazia ninguém menos do que Freeza, um dos vilões mais icônicos do mangá, de volta aos holofotes.

Apesar de gostar desses filmes, sempre senti que faltava algo neles. Batalha dos Deuses é uma aventura mais cômica sem muitos combates, e para mim o grande confronto entre Goku e Bills não teve tanto impacto para um luta a níveis “divinos”. Já Renascimento de F, mesmo com o carinho especial de eu ter visto nos cinemas, foca demais nas lutas e nas novas transformações (aliás uma nota: eu acho o Freeza Dourado uma transformação horrenda, tanto em ideia quanto design).

E chegamos em 2018, com o anúncio de Dragon Ball Super: Broly. O filme seria o primeiro a levar o nome do Super no título e seria uma sequência direta dos eventos da última saga, o Torneio do Poder. Parecia uma ideia completamente comercial, porém o que vimos foi o casamento perfeito entre as lutas intensas de F com o enredo e expansão do universo de Batalha dos Deuses, sendo, pra mim, o melhor filme de Dragon Ball já feito. E não, isso não é um clickbait.

Broly Finalmente É Um Personagem

Eu não irei poupar palavras aqui: O Broly de Dragon Ball Z é um merda. Com M maiúsculo. Mesmo com o envolvimento de Akira Toriyama no design original do personagem a mando da Toei, ele é o auge do que havia de pior dos Anos 90: visual extremamente exagerado, motivação idiota (ter raiva do Goku por ele ter chorado ao lado do berço dele? Sério?) e frases de efeito tão ridiculamente edgy que chegam a ser vergonhosas. A única razão pra eu gostar do personagem é porque a transformação dele é verde. Eu não estou brincando. Quando o filme foi anunciado lá em 2018, fiquei com um pé atrás. O primeiro filme do Broly Z é decentezinho, mas o segundo, intitulado O Retorno de Broly, é dolorosamente horrível. E claramente a canonização na linha do tempo principal parecia uma péssima ideia, feita para ganhar dinheiro em cima de um personagem super popular. Inclusive, o próprio Toriyama comenta o quão o Saiyajin insano é popular entre os fãs:

“Então, sobre o Broly. Eu ouvi dizer que ele ainda é muito popular não só no Japão, mas também no ocidente. Por conta disso, meu editor sugeriu colocá-lo no próximo filme.”— Comentário de Akira Toriyama em 2018, em post oficial da Toei Animation.

Muito da filosofia do design antigo foi preservada, apenas atualizada para o novo Broly. Com um visual bem mais parecido com Dragon Ball do que Dragon Quest, vários elementos foram mantidos: o pano ao redor da cintura, o dispositivo de controle de Paragas, a transformação de olhos brancos e cabelos verdes — um conceito já introduzido com Kale,saiyajin feminina do Universo 6—e a falta de conhecimento dos personagens em relação à existência desse poderoso guerreiro. Porém, a mudança mais visível foi a construção do personagem.

Arte por EliteNappa.

Enquanto o antigo Broly tinha uma motivação digna de um roteiro ruim das HQs americanas da época, o novo agora é um saiyajin de coração puro tal qual o próprio Goku, mas que ao lutar, perde a sanidade. O personagem fala poucas vezes no longa e a vasta maioria de seus diálogos são gritos, muito bem executados na versão brasileira pelo dublador Dado Monteiro. Enquanto o saiyajin dos filmes antigos é um sádico sanguinário — o que por si só já contradiz a lenda do Lendário Super Saiyajin — a nova versão possui um poder latente muito alto porém não exerce controle sobre tal, ou seja, a força de Broly é ao mesmo tempo uma benção e uma maldição, um contraste interessantíssimo à natureza pacífica e inocente do personagem.

Outra característica fantástica é como o novo Broly é quase um selvagem, não por uma atitude violenta e agressiva, mas em sua falta de conhecimento da tecnologia moderna. Por ter vivido em um planetoide por toda a sua vida, alguns hábitos são totalmente alienígenas (trocadilho totalmente intencional) para ele, como embalagens, comida comum e até água potável. Até seu estilo de luta é bem mais primitivo e sem qualquer refinamento, similar a um animal lutando pela sua sobrevivência. Isso não só deixa o personagem muito mais palpável, como também faz o espectador criar empatia e entender que aquele homem não é um vilão, apenas uma vítima das circunstâncias, bem diferente da versão do Z.

Uma Grande Expansão do Universo

O primeiro ato do filme deixa as lutas e transformações insanas de lado e foca no aspecto que muita gente tinha curiosidade: o Planeta Vegeta do passado. Apesar dessa parte do passado já ter sido abordada em Jaco: O Patrulheiro Galático, aqui ela foi expandida, dando ainda mais detalhes de como era a vida dos saiyajins antes da extinção. Com uma pegada muito mais emocional, aqui vemos a péssima relação da raça guerreira com seu imperador Freeza, eles detestavam serem subjugados por alguém mais forte que eles.

Também temos a origem dos scouters, equipamento icônico da Saga Freeza, aprendemos que os bebês saiyajins ficam em cápsulas de “hibernação” até atingirem uma certa idade, o conceito de saiyajin mutante, além de introduzir Broly e Paragas naturalmente na linha do tempo da série de forma coesa e natural. É uma história que expande e não muda drasticamente o mangá original, bem como serve de continuação para os eventos do arco Sobrevivência dos Universos de Dragon Ball Super. Até algumas coisas menores, como o pano na cintura de Broly, têm fundamento e explicação.

E após quase vinte anos, Gogeta finalmente se tornou canônico no universo principal de Dragon Ball, com direito a forma base, Super Saiyajin Azul e o retorno da Soul Punisher, golpe presente no filme do Janemba! A adição do Gogeta ao cânone foi uma das melhores coisas do filme, sendo este outro conceito que foi resgatado por Toriyama dos filmes antigos. Na versão antiga, porém, a fusão já surge como Super Saiyajin, enquanto a aparição em DBS ganha forma base,e só durante a luta final ele se transforma. O esquema de cores também foi mudado para fazer par com Gotenks e seguir o estabelecido no mangá.

Animação e Lutas de Tirar o Fôlego

Se tem uma parte que precisa ser apreciada são as lutas e animação desse filme. Diferente de longas anteriores, DBS Broly contou com dois artistas diferentes: Naohiro Shintani para o character design e Tatsuya Nagamine na direção. O estilo de arte do filme abandona os designs retos e quadrados de Tadayoshi Yamamuro (que fez algumas cenas aqui mas não é o character designer principal) e adota um estilo mais arredondado e dinâmico, é uma aproximação quase 1:1 do estilo antigo de Toriyama, da época em que o arco de Namekusei ainda estava em publicação, e eu acho essa uma abordagem sensacional que casa bem demais com Dragon Ball.

Esse dinamismo possibilita aos animadores uma abordagem completamente nova para a coreografia das lutas, maiores distorções para ajudar na ideia de impacto, além de uma colorização bem menos chapada e melhor trabalhada. Pode se dizer que este longa é uma atualização das técnicas de animação usadas em Super, com muito mais capricho e menos dependência de efeitos digitais. Apesar disso, o filme conta com duas sequências feitas em computação gráfica, uma das minhas reclamações nos filmes anteriores da trilogia. Mas de algum jeito, a mescla entre animação 3D e 2D não me incomodou tanto.

Shintani tirou aquele azul turquesa horroroso de Renascimento de F e tornou o Super Saiyajin Azul muito mais bonito, ao usar um tom mais escuro pro cabelo e uma tonalidade diferente de azul para os olhos.

Outra coisa que me agrada muito são as transformações, e eu ouso dizer que as sequências de transformação daqui são as mais criativas e bonitas da série, usando frames nunca antes vistos, desde o olho vermelho de Goku na transição de Super Saiyajin para sua forma divina até o frame de Vegeta de cabelo verde por alguns segundos antes de se tornar Super Saiyajin. Com grande orçamento e tempo, as transformações deste filme são um show a parte, que enchem seus olhos e te mantém grudado na tela enquanto assiste. Acompanhadas da trilha sonora marcante, as batalhas em DBS Broly são intensas e empolgantes, um verdadeiro espetáculo visual, graças ao trabalho de uma equipe dedicada e muito competente. Vi esse filme pela primeira vez no cinema e a cada embate eu tinha vontade de gritar de empolgação, e após revê-lo ontem (Inclusive é por isso que este texto está saindo), me arrepiei todo só em relembrar dos combates fenomenais. E esse é um charme que só Dragon Ball tem.

Conclusão

Muito obrigado por ter lido até aqui. Eu realmente amo esse filme e recentemente queria muito rever, até descobrir que ele está disponível no Amazon Prime Video (no momento de publicação deste texto). Me apaixonei de vez por Dragon Ball lá em 2012, quando li o mangá pela Panini. Desde então, eu tenho um carinho muito grande pela série, que desde os seus primórdios é adepta do “menos é mais”. Eu já conhecia a obra de Akira Toriyama pela exibição de DBZ pela Globo, mas só anos mais tarde eu conheci a história completa.

Hoje em dia criou-se um elitismo besta acerca da série por ela não ter personagens complexos ou uma trama profunda e densa, mas sendo bem sincero, a simplicidade é a grande graça de Dragon Ball. Nem tudo precisa ter uma mensagem profunda e personagens super densos para ser bom. Apesar de não gostar de algumas decisões em Dragon Ball Super, a sequência de DBZ me agradou de certa forma, especialmente por ter acompanhado no lançamento, sentimento que não tive com o anime do Z.

Vejo vocês na próxima! E fiquem bem.

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Written by Paladin Allvo

Brasileiro fã de anime, mangá, joguinho e quadrinhos. Escrevo as coisas que penso e/ou vivencio.

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